Educação

Professor versus Educador

O assunto pode soar polêmico, mas precisamos falar sobre. Acredito que buscar a etimologia das palavras “professor” e “educador” parece, muitas vezes, chato, mas será que ambas estão de acordo com seu ethos educato*? Vamos analisar no como a nossa sociedade tem se deparado com a transformação de conteúdo?

Segundo o Dicionário Aurélio, educar vem de adaptar, transmitir, dar a (alguém) todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento de sua personalidade. Com todo respeito à profissão, se formos analisar a palavra professor, que significa “o que ministra aulas, ensina ou professa alguma coisa”, e comparar com a palavra educador, que significa “aquele que educa”, qual seria o mais apropriado para a frase grifada acima? Não é porque a palavra educador é um derivativo de educar, mas sim porque se trata de um adjetivo que ilustra alguém que vive pela causa: desenvolver indivíduos.

Professor Ministrador x Professor Educador

Quando tinha aproximadamente seis anos de idade, estudava em uma escola onde não se costumava ter mais do que uma ou duas professoras por sala. Lembro-me que na 4 série do primário minhas notas estavam caindo, meu rendimento escolar estava menor e aquela professora notou que até no meu convívio com a turma eu estava apático.

Certo dia, nossa professora disse que iria ensinar a matéria (inclusive era geografia, nunca me esqueço) através de uma brincadeira parecida com a forca no qual cada aluno deveria completar as frases sobre o tema, soletrando as letras em voz alta para completar a palavra. Mas, pediu para fazermos isso tampando um olho de cada vez. Bingo! Descobri que eu precisava de óculos!

Pode parecer uma coisa simples, mas tenho certeza que esse é um tipo de história que ilustra a diferença entre professores ministradores e professores educadores de verdade. Aquela professora, aliás, não havia se contentado apenas em me despertar a necessidade de usar óculos, mas tratou imediatamente de conversar com a coordenadora para me mudar no mapa de sala e trazer novas abordagens para a aula que contribuíram para a integração de toda a turma. Que professora educadora!

Escola como transformação

A educação de um indivíduo como ser moral pode até ser papel dos pais, mas acredito que cabe a nós participar da construção do ser social e profissional, independente do grupo que pertença, para fortalecer os alicerces de uma cidade mais inteligente e mais humana.

Em plena era da informação (que mudou a forma de ensinar/aprender), vemos de braços cruzados o papel da escola enquanto instituição de ensino se perdendo entre sofismas e passatempos literários (conhecida por alguns como aula vaga para fazer resumo de livro), descumprindo sua função local de transformação dos indivíduos. Aliás, nada contra ler livros, desde que siga um planejamento elaborado. Desta forma, não se consegue competir com as distrações em sala de aula, por não cumprir com o papel de formar mentes mais brilhantes e com curiosidade intelectual necessária que as tornem aptas a criar soluções para as questões do cotidiano de forma simples e objetiva.

Existe uma frase do Murilo Gun que gosto muito: “A cola é o instante em que o estudo e a prova ocupam o mesmo espaço no tempo”. Isso exemplifica como mesmo nas situações mais improváveis ainda precisamos estudar, mas estudar com um objetivo. E como reverter tal situação? Talvez essa não seja a palavra certa. Acredito que a palavra certa é evoluir.

Ministrar conteúdo pode formar indivíduos cheios de argumentos para passar em provas com boas colocações, no entanto, somente pelo ato de educar é que conseguimos transformar o mundo, otimizando seus recursos para construir indivíduos sociais melhores, quer seja em construções civis, na melhor urbanização da cidade, em um método inclusivo do ensino da música, em indústrias criativas, em uma sociedade com paixão pela transformação do conhecimento. Como disse, o assunto é polêmico, mas precisamos falar sobre.

*ethos educato é uma neologia que usei formada pela união de duas palavras ethos (hábito ou costume) + educato (educar) para designar o hábito atual nos processos de educação, que muitas vezes se torna inerte por ter herdado o desestímulo adquirido pelos profissionais que se submetem as muitas dificuldades de ministrar aulas no cotidiano.

Roberth Cruz