Educação

O Ensino de idiomas: Da dominação cultural à autonomia individual

Dominar uma segunda língua deixou de ser um diferencial e tornou-se uma exigência no mercado de trabalho atual. Indo nessa direção, centenas de cursos de idiomas têm brotado nas esquinas das cidades oferecendo diversas línguas e inúmeras metodologias inovadoras, cabendo ao aluno escolher o que melhor se adequa ao seu contexto. Mas nem sempre foi assim. Em diversos momentos da história, o ensino de línguas tinha objetivos bem específicos e um público bem reservado.

Sem L, R e F

No Brasil, o ensino de línguas se iniciou no período da colonização. A Companhia de Jesus, composta por padres portugueses, foi incumbida de tornar civilizados, através do ensino da língua e religião, aqueles nativos que encontraram por aqui. Segundo o cronista Pero de Magalhães de Gândavo, em 1576, a língua falada pelos índios não possuía as letras L, R e F, coisa digna de espanto para o autor, porque assim não tinham Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira, viviam desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida. Ou seja, a primeira forma de ensinar uma nova língua teve caráter de dominação cultural.

Latim é chique

Durante a Era Renascentista no Século XVII, o boom das culturas latina e grega resultou no interesse em se aprender tais línguas clássicas como forma de se aproximar dos conhecimentos dessas civilizações. Nesse período, poucos tinham acesso ao ensino de idiomas, que era voltado para a formação humanista e intelectual ao permitir que os aprendizes pudessem traduzir os textos literários nessa língua.

Soldados poliglotas

No final da década de 30 a 2ª Guerra Mundial estourou e os Estados Unidos, um dos principais envolvidos, necessitava de soldados fluentes em diversas línguas, mas raros casos atendiam à demanda. Com o tempo curto e a guerra atingindo maiores proporções, os norte-americanos tomaram medidas drásticas: contrataram linguistas e nativos para dar aulas que possuíam o foco exclusivo na oralidade e repetição de sons e frases inúmeras vezes em um período diário de nove horas por meses. Os centros de idioma brasileiros decidiram implantar o mesmo ensino e consequentemente começaram a importar materiais e métodos norte-americanos na década de 50.

Aprender línguas é funtastic

Nas últimas quatro décadas, o ensino de idiomas tornou-se mais popular, divertido e abrangente. Cada vez mais as perspectivas estão se voltando para o aluno como indivíduo autônomo e à aprendizagem da língua como processo de sensibilização. Aspectos culturais, sócio-políticos e identitários se somam ao currículo do ensino de idiomas com o objetivo de se formar alunos intelectualizados e conscientes das “engrenagens que movem o mundo”. Também cabe ressaltar a influência da globalização e tecnologias nas metodologias de ensino. Claramente, as tecnologias de informação e comunicação – as TICs – são importantes e inevitáveis ferramentas para a promoção da aprendizagem, como já havíamos abordado em recente artigo no blog.

Como vimos, o conceito de ensino/aprendizagem de línguas passou por diversas modificações no decorrer dos séculos. De dominação cultural, passou pela intelectualização de privilegiados, interesses de guerra até chegar aos dias hoje como forma de construir indivíduos conscientes, além de prepara-los para o exigente mercado de trabalho.

Maycon Miliorini