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Medellín: a periferia como centro da inovação

Entenda como a cidade de Medellin se tornou um simbolo mundial de Educação e Inovação. O que isso tem a nos ensinar?

 

“Os cientistas dizem que estamos feitos de átomos, mas um passarinho me contou que estamos feitos de histórias”. (Eduardo Galeano)

 

Nos últimos dois anos, tenho me dedicado aos estudos das culturas e artes produzidas nas periferias das cidades, no incessante retorno às coisas que nos movem- as histórias. Lá pros anos de 2006/2007, enquanto o mundo passava por transformações radicais, acentuadas pelas novas tecnologias de comunicação, um grupo de jovens organizava rodas de improviso e poesia no fundo do transporte escolar no trajeto entre os bairros periféricos de Cariacica. Entre o abrir e o fechar das portas, após o dia cansativo de aulas, sempre ouvia, precedido de onomatopeias: “Vai descer quem mora mal!” No fim, o ônibus vazio. E segue a rotina violenta- no simbolismo do excesso de faltas e na presença massacrante do rubro que tinge corpos pretos.

 

E o que Medellin tem a ver com nós, sobreviventes das descidas entoadas pelo canto coletivo- denuncia zuada? Dez anos após ajudar a organizar, no fundo da escola, pequenas rodas culturais, participei da Formação para Gestores e Produtores Culturais de Cariacica, organizado pelo Galpão CineHorto- MG, onde tive a oportunidade de conhecer a experiência transformadora da cidade mais violenta do mundo em a CIDADE MAIS INOVADORA DO MUNDO (2016), titulo concedido a Medellin pelo Wall Street Journal e o Urban Lan Institute.

 

A aproximação com a realidade das periferias daqui foi inevitável. Uma gota de utopia nos olhos – quem não tem colírio usa óculos escuros.

 

Educação, inovação e urbanização em Medellin

Em 2004, os investimentos em Medellín para a Educação subiram de 12% para 40% e, para a Cultura, de 0,62% para 5%, transformando a cidade em referência mundial nas áreas social, urbana, educativa e cultural, com projetos focados na inovação e no empreendedorismo. A construção das famosas biblioteca-parques que oferecem formações, encontros e acesso gratuito a computadores e internet, aliadas ao novo modelo educacional, que perpassa desde o projeto arquitetônico da escola, que facilita a aproximação e as trocas, além do foco na aprendizagem, convivência e inovação.

 

Outro fator importante é o projeto de urbanização da cidade, que conta com escadas rolantes, teleférico e transporte público eficaz, facilitando a aproximação entre os diferentes pontos da cidade, entre a periferia e o centro. Em tempos da defesa de um novo paradigma de cidade: educadora e inovadora, a oportunidade de circulação e posteriormente o acesso à aprendizagem que as relações nas cidades proporcionam, esse modelo urbanístico favorece, indissociavelmente, a formação múltipla dos sujeitos compreendendo os aspectos intelectual, físico, afetivo, técnico, político, cultural, dentre outros.

 

Medellin: possíveis pontes

A solução para a crise está nas favelas e periferias. Basta ver o que estamos fazendo de forma independente, basta nos ouvir, basta parar de nos observar pela mira do fuzil de um policial.” (Raul Santiago)

 

Enquanto a cidade colombiana conseguiu a passos rápidos transformar a realidade de sua população com investimentos maciços nas periferias, com um projeto urbanístico integrador e participativo, focados em educação, cultura e tecnologia, conseguiu subverter a lógica da violência, o Brasil continua colecionando o status de um sistema educacional falido e uma sociedade cada vez mais excludente e violenta.

 

Nesse momento de crise global, a avaliação sobre a realidade brasileira e possíveis oportunidades de mudança, requerem um olhar atento para a transformação das cidades, com foco em projetos inovadores, atentando-se para as produções que emanam das periferias dos centros urbanos, que a partir de organizações próprias e independentes tem mostrado os caminhos para superação das atuais crises enfrentadas pelo País.

 

Para não finalizar: Comecei o artigo com Galeano, falando sobre a tecitura do ser pelas histórias, tracem as possíveis pontes, como desejar- a história vai sendo contada pelas bordas do tecido. Escrevi, saí voando.

Juplin Jones
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