Educação

Makiguti, inspiração para uma nova educação brasileira

A educação no Brasil se encontra numa crise imensurável. Cada vez mais se noticiam casos de violência dentro das escolas e tal fato se confirma a partir de dados trazidos pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico): nosso país é número #1 no ranking de violência. Soma-se a isso a falta de verba para repasse nas escolas e professores com meses sem receber seus salários. A OCDE também avaliou o nível de conhecimento em ciências, leitura e matemática de alunos espalhados por 70 países e os dados desanimam: o Brasil teve uma queda no ranking e nossos alunos ficaram na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. Diante desses fatos, é necessário que haja uma reforma educacional e política visando minimizar e erradicar os problemas que nos minam.

 

Tsunessaburo Makiguti - educador pedagogista japonêsNesse aspecto, podemos levar como o exemplo o Japão: atual referência no quesito educação, o país asiático já possuiu um sistema escolar tradicionalista e individualista. Tsunessaburo Makiguti (foto), professor japonês do início do Século XX, deu sua vida em prol de uma educação mais humana e coletiva. O educador revolucionário nasceu em 6 de junho de 1871 no Japão. Devido a sua família desestruturada, Makiguti, aos 15 anos, foi morar com um tio. Apesar da extrema pobreza, o japonês possuía um caráter forte e desempenho brilhante, o que lhe proporcionou a oportunidade de matricular-se num curso de magistério. Nos anos seguintes, passando por dificuldades financeiras e demissões por conta de suas ideias, Makiguti tornou-se diretor e escreveu algumas obras, entre as quais a “Educação para uma vida criativa”. Com a 2ª Guerra Mundial, a ditadura imperialista instaurou-se no Japão e tornou Tsunessaburo inimigo do lmperador. Em 1943 ele é capturado e, devido à velhice e aos maus tratos, morre na cadeia um ano depois.

 

Afligido pela situação educacional de seu país, Makiguti se lançou, durante 30 anos como educador, a compreender as deficiências presentes no sistema de ensino e a propor reformas para vencê-las. A partir desse processo, o professor japonês elaborou seis temas norteadores de sua reforma. São eles:

 

  1. Objetivo na Educação: Ele observou que objetivo da educação, formulado por filósofos e acadêmicos, fugia completamente da realidade de vida dos alunos. Estes profissionais possuíam pensamentos bastante abstratos, o que tornava o objetivo educacional irreal. Logo, Makiguti entendeu que um primeiro passo em direção à reforma educacional seria baseado no reconhecimento das reais necessidades dos indivíduos para a formulação de objetivos concretos.
  2. Felicidade: pensa-se erroneamente que felicidade se trata de uma satisfação imediata e individual do ser humano. Para o educador, felicidade é mais complexo do que se imagina; trata-se de uma consciência social na qual cada indivíduo compreende não só apenas suas necessidades básicas, mas também a de todos ao seu redor. A grande falha do sistema educacional seria então o incentivo a uma busca incansável de uma felicidade superficial e egoísta.
  3. Criação de Valores: Makiguti entende que o ser humano é criativo por natureza e que sempre está a criar valores com diversos fins. A educação ideal seria uma forma de incentivar cada indivíduo a criar valores com o objetivo de melhorar a sua vida e a da sociedade ao seu redor. Dessa forma, a vida pessoal e a rede de relações interdependentes se intensificariam.
  4. Processo de Aprendizagem e Treinamento de Professores: Observando o caráter mecânico do processo de ensino, Makiguti entendeu que jamais a aprendizagem deveria ocorrer a partir de uma transferência de conhecimento, mas sim a partir de uma orientação de como aprender, ou seja, orientação dos esforços dos próprios alunos no caminho do autoconhecimento. Para ele era necessária uma formação de professores voltada a esse objetivo. Era preciso se formar mais professores orientadores/apoiadores do que professores transmissores/impositores.
  5. Ciência da Educação: Para ele a educação devia tornar-se ciência. Era necessário descobrir-se princípios científicos de aprendizagem com o objetivo de melhorar a educação. A objetividade que a ciência proporciona possibilitaria aos educadores um trabalho mais efetivo na reformulação do sistema educacional japonês.
  6. O Papel da Escola, Lar e Comunidade: Makiguti defende que uma educação eficaz se faz a partir de uma tripla parceria entre escola, lar e comunidade. Para tal, era necessário reduzir o tempo da criança na escola para que a mesma pudesse participar de atividades na comunidade e em casa. Era necessário vincular os estudos à vida real para tornar a educação mais real e contextual.

 

Sua pedagogia atualmente é bem difundida em todo o mundo e pode ser comparada às ideias de outros grandes filósofos e educadores como Paulo Freire, Antonio Gramsci e Pierre Bourdieu. Além disso, suas concepções foram base para a fundação do aclamado Instituto Educacional Soka, que nas Américas, possui uma filial em São Paulo (Educação Básica) e uma nos EUA (Educação Superior). Mesmo sendo escritas há quase 100 anos e em outro contexto, as ideias de Makiguti são contemporâneas e devem ser usadas como exemplo numa possível e necessária reforma educacional brasileira.

 

E você, acredita que essas ideias de Makiguti para revolucionar a educação no Japão funcionariam no Brasil? Compartilhe sua opinião.

Maycon Miliorini