A interdisciplinaridade é tema recorrente nas atuais discussões acerca da grade curricular da educação, principalmente no Brasil. Ela “caracteriza-se pela intensidade de trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real entre as disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”. (JAPIASSU, 1976). Cada vez mais se percebe que separar os conhecimentos em disciplinas distintas parece fragmentar a construção do ensino-aprendizagem. No entanto, é consenso entre todos os especialistas em educação que se trata de um assunto muito complexo de se conceituar e, principalmente, de se implantar no sistema escolar. Para entender e discutir a interdisciplinaridade nesse artigo, debruçamo-nos nos trabalhos de dois autores: Juarez da Silva Thiesen (2008) e Ivo Tonet (2013).
Em seu texto “A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem”, Thiesen, doutor em Ciências Pedagógicas, afirma que a interdisciplinaridade é uma grande mudança paradigmática, pois vem resolver a questão da fragmentação do conhecimento. A realidade é complexa e requer um pensamento multidimensional e não unilateral, como é atualmente na grade curricular. Juarez aponta que cada vez mais as disciplinas necessitam umas das outras, pois a interdisciplinaridade contribui para uma melhor compreensão entre teoria e prática, formação mais crítica e criativa. Porém, a interdisciplinaridade na prática se torna difícil, pois os próprios professores se formam através de uma estrutura disciplinar.
O doutor em Educação pela UNIESP, Ivo Tonet, em “Interdisciplinaridade, formação humana e emancipação humana”, traz uma opinião divergente em relação ao autor citado anteriormente. Segundo ele, a interdisciplinaridade não é uma solução correta para o problema da fragmentação e especialização do conhecimento. Primeiramente, pensa-se erroneamente que a complexificação e fragmentação são simplesmente resultados naturais dos processos sociais. Para Tonet, tais processos não são naturais porque estão relacionadas com a divisão do trabalho e de classes que ocorreram com a ascensão da burguesia a partir do Século XVII. Essa separação social foi essencial para que também ocorresse a divisão entre as ciências. Ademais, a fragmentação da sociedade em todos seus aspectos permite a exploração do capital sobre o trabalho e, portanto, a manutenção dos interesses das classes dominantes. O autor é taxativo ao afirmar que a única forma de superar o caráter fragmentado do saber é com o fim do capitalismo e ascensão de uma forma de sociabilidade comunista.
Cada um dos textos apresentados trabalha diversos aspectos em relação à interdisciplinaridade entre as ciências e os conhecimentos. Tonet caminha pelo âmbito filosófico para explicar o tema, enquanto Thiesen o relaciona mais objetivamente à educação. No entanto, ambos reconhecem que a interdisciplinaridade ainda é um conceito bastante complexo e utópico, principalmente porque vivemos em uma sociedade cercada de divisões e no qual a formação dos profissionais é disciplinar. Não é preciso ir tão longe quanto Tonet ao sugerir o comunismo como solução. A interdisciplinaridade é possível porque cada vez mais os conhecimentos estão se relacionando. Por exemplo, a biologia necessita da engenharia para compreender a formação do DNA, a Linguística estuda a história dos povos para delimitar como as línguas foram sendo construídas, entre outros. Ou seja, a sociedade vem caminhando para um conhecimento totalizante e unido. Isso deve ser refletido na realidade escolar a partir de uma maior interação entre as disciplinas, sendo assim, os alunos podem aprender de forma mais objetiva e motivada a partir de associações entre os conhecimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
THIESEN, Juares da Silva, A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Educação [en linea] 2008, 13 (Septiembre-Diciembre) : [Fecha de consulta: 10 de diciembre de 2017] Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27503910> ISSN 1413-2478
TONET, I. Interdisciplinaridade, formação humana e emancipação humana. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 116, p. 725-742, out./dez. 2013
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