Os processos de reorganização educacional, grandes movimentos estudantis (principalmente os secundaristas) e diversas debates e reivindicações tem atravessado diretamente o modo de pensar e sentir a escola. Esses apontam para a necessidade de uma escola com espaço mais aberto para receber a comunidade, a participação dos educandos na construção do pensar e fazer os diversos tempo-espaço da escola, além do trabalho multidisciplinar, com foco no “projeto de vida em que o conhecimento é significativo. Mas é o sujeito quem aprende através de sua própria ação transformadora sobre o mundo. É ele quem constrói suas próprias categorias de pensamento, organiza o seu mundo e o transforma”- como nos aponta GADOTTI, num reflexão sobre o pensamento freiriano.
Em 2014, ao me formar no curso de Pedagogia, já vinha realizando atividades em diversos espaços educativos, com propostas pautadas no incentivo a leitura e a escrita. Juntamente com o Coletivo MarginalES– coletivos de escritores e produtores culturais das periferias da Grande Vitória- circulamos diferentes espaços educativos com oficinas de escrita criativa, rodas de leituras e produção de eventos literários: saraus, slams, bate-papo com autores, publicações etc. Os projetos são sempre pautados pela cooperação, num processo de participação, sem a obrigatoriedade de propensões artísticas, apesar das diversas potencialidades percebidas no caminhar.
A Escola Viva Joaquim Beato, na Serra, foi pioneira no Estado ao criar a primeira Academia Estudantil de Letras, proporcionando aos alunos participantes espaço aberto de leituras e debates literários. Outro projeto interessantíssimo é organizado por jovens estudantes de Cariacica. O Coletivo Griôs, vem desenvolvendo atividades de arte-educação, a partir do hip hop e da literatura periférica, em parceria com diferentes escolas públicas, incentivando a expressão literária, o protagonismo e a formação de redes, uma vez que tais projetos extrapolam os muros da instituição escolar, reinventando também o cotidiano da comunidade- que abraça semanalmente rodas culturais no bairro, com música, literatura e outras linguagens artísticas.
O projeto cultural Semente Literária, aposta em oficinas e concursos literários para desenvolver o gosto pela leitura e escrita, além de potencializar a participação dos estudantes em outros momentos de vivência, com escritores renomados no cenário nacional e capixaba das letras. O projeto é organizado pelo escritor e produtor cultural Marcos Bubach e tem a finalidade de incentivar a produção literária entre os jovens, principalmente nas escolas, alcançando alunos do ensino fundamental e médio.
Todas essas iniciativas demonstram como é importante o trabalho com a literatura nos espaços educacionais, apontando para a necessidade de uma escola que potencialize a participação, a inovação e o protagonismo, num fazer-pensar, indissociável, da realidade e dos novos modos de organização social, educacional e cultural do séc XXI.
Outras reflexões necessitam ser levantadas, ao pensarmos, o potencial empreendedor dessas inciativas, tais como: Quais são as contribuições dessas para a economia local? Como essas iniciativas tem transformado o dia-dia das escolas? Essas ficam para outro momento. Voltamos a nos falar em breve.
GADOTTI, M. A práxis político-pedagógica de Paulo Freire no contexto educacional brasileiro. In: VENTORIM, S., PIRES, M. F. C., OLIVEIRA, E. C. (Org.) Paulo Freire: a práxis político-pedagógica do educador. Vitória-ES: EDUFES, 2000.
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