Educação

Diversidade na escola e a violência do silenciamento

Diversidade na escola e a violência do silenciamento

É inadmissível que, em pleno século XXI, era das tecnologias de informação, temas como a diversidade sexual sejam tabu nos diferentes âmbitos sociais, principalmente nas escolas. Segundo Durkheim, a escola tem a função de desenvolver na criança certos aspectos reclamados pela sociedade, isto é, manter o meio moral vigente da sociedade e garantir a tão necessária manutenção da ordem social. Nesse sentido, a escola parece refletir a sociedade no sentido de disseminar identidades de grupos privilegiados e, consequentemente, dar à diversidade um caráter secundário ou de exclusão, como pode ser percebido em relação às sexualidades não normativas.

 

Segundo Butler (2015) apud Gamboa (2017), a sociedade nem sempre se construiu de maneira coerente ou consistente nos diferentes contextos históricos. Sua formação sempre esteve relacionada a questões raciais, classicistas, sexuais e regionais. Nesse sentido, certos grupos se utilizaram e utilizam do discurso e da linguagem para manutenção de seus privilégios a partir da repetição de atos que adquirem o status de natural. No que tange à identidade, a construção do próprio “eu” se dá a partir da interação com o meio social e cultural, logo essa concepção se faz na linguagem em que tal ser existe. Como sabido, o sistema linguístico – instrumento de manutenção do poder – induz os indivíduos a acreditarem estar errados ao fugirem dos padrões cristalizados e idealizados pelo comportamento heternormativo.

 

Além disso, cabe ressaltar que muitas famílias defendem que somente a elas cumpre o papel de ensinar (ou não) sobre a diversidade sexual. De fato, é no ambiente privado que as crianças recebem com maior intensidade as noções – diretas ou indiretas – a partir das quais construirão sua sexualidade, o que pode contribuir para tornar a discussão sobre a orientação sexual bem delicada, visto que justificativas pseudocientíficas e religiosas podem legitimar as violências sofridas por grupos que fujam à heteronormatividade – conjunto de comportamentos que conduzem as pessoas para práticas sexistas baseadas no binarismo macho/fêmea.

 

Comprovadamente, podem-se citar diversas tentativas de se inserir o tema no currículo, mas que foram barradas por influência de grupos conservadores em prol de uma falsa defesa dos valores tradicionais familiares. Recentemente, por exemplo, o MEC suprimiu termos relacionados à orientação sexual da versão final da Base Nacional Comum Curricular com a desculpa de que havia bastante redundâncias em seu texto. Esse silenciamento se relaciona ao conceito de “violência simbólica” de Bourdieu, em que certos conhecimentos referentes a grupos desprivilegiados, como os LGBTs, são tidos como menos importantes. Cria-se, portanto, uma resistência em relação às identidades não heteronormativas com o receio de que se estaria “incutindo” nos jovens a homossexualidade, como se esta fosse uma doença contagiosa.

 

A partir dos fatos supracitados, faz-se importante abordar a temática da orientação sexual na prática docente com o objetivo de incentivar que os indivíduos aprendem a conviver com as diversidades e entendam que estas compõem as identidades de cada pessoa. A escola se torna uma excelente plataforma para valorizar e promover os direitos humanos, pois é lá que as relações sociais se concretizam. Logo, espera-se erradicar o preconceito e falsas crenças em relação a outras identidades além da heterossexual.

 

REFERÊNCIAS:

GAMBOA, Augusto Rafael Brito. A inclusão das identidades LGBT em curso de comunicação: Processos midiáticos inclusivos na contemporaneidade. 2017. 81 f.  Dissertação (mestrado em comunicação) – Faculdade Cásper Líbero, São Paulo,SP, 2017.

Maycon Miliorini