É inegável o destaque dado à didática na formação de educadores, sejam especialistas e/ou professores, mas, atualmente, tal assunto vem gerando tamanha discussão, já que muitos a “acusam” de alienação dos profissionais da educação, e outros de que seu papel não seria tão importante assim no processo de ensino/aprendizagem. Para dar conta dessa discussão, Vera Maria Candau (1989), doutora em educação, em seu texto “A didática e formação de educadores”, faz um recorrido histórico do papel da didática, através de sua experiência como professora de didática.
A autora afirma que o processo de ensino/aprendizagem, objetivo da didática, é multidimensional e que precisa ser analisado através de três perspectivas: humana, técnica e político-social. Esta primeira perspectiva trata da afetividade, que teria papel importante nesse processo. Libâneo (1998), em seu texto “Adeus professor, adeus professora?” também assinala a importância da afetividade.
Proporcionar ao aluno uma aprendizagem significativa supõe, da parte do professor, conhecer e compreender motivações, interesses, necessidades de alunos diferentes entre si, capacidade de comunicação com o mundo do outro, sensibilidade para situar a relação docente no contexto físico, social e cultural do aluno. (LIBÂNEO: 1998, pag. 19)
A segunda dimensão a ser considerada, a técnica, tem a ver com a melhor maneira como o profissional propiciará a aprendizagem, incluindo nisso a seleção de materiais, estratégias de ensino, avaliação e etc. Candau alerta que se além do “como fazer?”, não houver o “por que fazer?” e “para que fazer?”, acaba-se caindo no tecnicismo. Por fim, o processo de ensino/aprendizagem é influenciado pela cultura específica contextual, pela ideologia e organização de poder, logo, a dimensão político-social lhe é inerente.
No segundo tópico do texto, a autora delineia a evolução da didática, baseando-se em sua vivência na área. Ela conta que, em seu início como professora de didática, havia uma preocupação em superar a escola tradicional, em favor da Escola Nova, que tinha como base os princípios de individualização e liberdade, além de levar em conta o “aprender fazendo” e “aprender a aprender”. Porém, nos últimos anos da década de 60, tal tendência entra em crise ao passo que cresce a tendência tecnicista, devido, principalmente, a época ditatorial instaurado no Brasil. As principais palavras que representam tal pedagogia eram “controle”, “eficiência” e “operacionalização”. A partir da metade da década de 70, as dimensões política e técnica começam a ser desvinculadas, já que esta última seria “utópica” por não levar em conta a realidade educacional. Por isso, a discussão citada no início do texto é tão atual e concreta.
Candau conclui seu texto chamando a atenção dos educadores em relação à didática; deve-se denunciar uma didática instrumental, onde técnica e política estejam desvinculadas, e, ao mesmo tempo, deve-se lutar por uma didática fundamental, que inclua as três dimensões já comentadas aqui: a técnica, a humana e a político-social, e que esteja compromissada com a transformação social e com a eficiência na educação.
REFERÊNCIAS
CANDAU, Vera Maria Ferrão (Org.). A Didática em Questão. 30ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. 127pg
LIBÂNEO, José Carlos. Profissão professor ou Adeus professor, Adeus professora? – exigências educacionais contemporâneas e novas atitudes docentes. pp. 13 a 52.
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