O mundo mudou totalmente nas últimas décadas com o advento das tecnologias de informação e, consequentemente, a globalização. A forma como nos relacionamos com nós mesmos, com a informação e com outros elementos se intensificou. Em relação ao conhecimento, a todo momento somos bombardeados com novas perspectivas e isso faz com que tudo se transforme rapidamente. Nesse sentido, a sociedade cada vez mais busca indivíduos movidos pelas experiências, flexíveis e adaptáveis às novas demandas. Logo, a escola tem papel fundamental na formação desse tipo de cidadão.
O ambiente escolar, então, não pode mais ser alheio a essas novas transformações. Por um longo tempo, um currículo que prezava o conhecimento atendeu às demandas de uma sociedade industrializada. No entanto, a era tecnológica exige mais do que apenas saber, mas também saber como fazer. Nesse ponto, Philipe Perrenoud introduz as competências como o norte que os currículos devem ter para formar alunos mais preparados para a flexibilização da sociedade tecnológica. Para o autor, então, um currículo que prioriza o desenvolvimento das competências prepara o indivíduo para a diversidade do mundo porque a trabalha explicitamente unida aos conhecimentos. Ou seja, os conhecimentos são introduzidos a partir de situações reais em que os estudantes poderão usá-los.
No entanto, cabe ressaltar que alguns desafios se põem no meio do caminho. Muitos professores ainda não compreendem qual é o significado de “competências”, bem como não sabem como aplicá-las. Isso se deve ao fato de suas formações acadêmicas terem sido voltadas para uma pedagogia de transmissão de conhecimentos. Além disso, o tema das competências é ainda bem recente no meio educacional, sendo introduzido pelos documentos norteadores na década de 90. As salas lotadas, falta de bons materiais de apoio e tempo curto são outros grandes desafios para se aplicar um currículo centrado no desenvolvimento das competências.
Nesse novo contexto de sala de aula inovadora, tira-se o foco das disciplinas em detrimento de um currículo mais integrador, em que há uma necessidade de enfatizar a compreensão global dos conhecimentos a partir de uma construção interdisciplinar. No entanto, este não é o fim das disciplinas, como garante Perrenoud. Elas seriam apenas meios e instrumentos para o desenvolvimento dessas competências. Há situações em que os domínios passarão por conhecimentos disciplinares e em outros momentos não.
Sob esse contexto, formar-se-á indivíduos mais críticos a partir do reconhecimento e aproveitamento do conhecimento de mundo que cada aluno leva para dentro da escola. Além disso, é considerável dizer que o excesso de conteúdos presentes no currículo seja um exagero e atrapalhe o desenvolvimento intelectual das crianças, pois muitos destes não possuem qualquer relação com a realidade em que se inserem os indivíduos. Em relação a isso, podemos fazer uma ponte com o conceito de “violência simbólica” do sociólogo Pierre Bourdieu. Este discorre que há o reconhecimento de conteúdos socialmente valorizados em detrimento de outros, o que corrobora com as desigualdades sociais. A violência se dá de fato quando a criança não consegue se reconhecer dentro daqueles conceitos que está aprendendo. Portanto, cabe à escola reconhecer as competências que realmente sejam essenciais para a formação de seus alunos e, assim, formarão indivíduos mais críticos.
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