Marise Nogueira Ramos, professora adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), inicia seu texto a partir de algumas noções gerais acerca do termo “competências”. Segundo a professora, é um termo polissêmico que vai desde um conjunto de conhecimentos e habilidades para um certo ofício até iniciativas e de responsabilidade sobre as situações profissionais. Ou seja, quando se relaciona ao mundo do trabalho, o conceito de “competências” se desdobra a partir das particularidades de cada função.
Ainda nesse contexto, aborda-se um fenômeno muito presente no meio corporativo: a eliminação de postos de trabalho devido às novas demandas do mercado de trabalho. Esse processo se relaciona diretamente com a questão da sobrevivência de profissões, que coloca em xeque a própria concepção de diploma em detrimento de qualificações práticas adquiridas com experiências reais. Nesse sentido, as competências não estariam mais atreladas à formação inicial, mas sim relacionadas às experiências adquiridas em estágios, empregos etc.
Diante desse cenário, as competências mudam a forma como se avalia a organização do trabalho. Se antes só possuir um diploma já garantia o “domínio” de uma profissão, agora, a todo momento, deve-se provar a própria adequação ao ofício que se encontra, visto que as transformações tecnológicas possibilitam mudanças rápidas no cenário. Logo, todas as concepções relacionadas a emprego se voltam mais para as competências individuais do que para qualificações e postos de trabalho.
Quando se faz uma relação com o plano escolar, também há uma mudança na concepção de aprendizagem. O ensino, que historicamente se compõe a partir de conteúdos disciplinares, passa a ter o objetivo de produzir competências verificáveis em situações reais e específicas. Ou seja, ao mesmo tempo em que os alunos desenvolveriam competências, compreenderiam onde utilizariam tais competências. Esse tipo de ensino se baseia na necessidade de se justificar a validade de ações e resultados.
De acordo com Ramos, a “pedagogia das competências” é resultado da correspondência entre escolas e empresas e permite, através de referenciais, que haja correlação entre a oferta de formação e a demanda de atividades profissionais. Também objetiva ampliar a ação de educar a novos ambientes, como o dos trabalhadores. Logo, não se limita à escola, mas também se faz presente em contextos diversos. Cabe dizer também que a concepção de competência como algo individual se faz presente em ideais conservadores de relações trabalhistas na contemporaneidade, pois usa-se as competências como fator econômico.
A autora ainda disserta sobre como as competências se situam entre o plano da teoria integracionista da formação do indivíduo e a teoria da funcionalista da estrutura social. A primeira descreve a competência como uma característica psicológico-subjetiva de adaptação do trabalhador à vida contemporânea. Já a segunda, por sua vez, descreve-a como fator de consenso necessário à manutenção do equilíbrio da estrutura social.
Em relação à construção do conhecimento, este se faz, de acordo com a professora, a partir da relação com o próprio meio através das percepções subjetivas extraídas pelos sujeitos em suas experiências. Nesse sentido, a validade dos conhecimentos ocorre a partir de sua utilidade naquele meio, o que lhe dá um caráter totalmente pragmático. Saem de cena a ontologia e história, portanto, e, em seu lugar, entram as experiências como forma de caracterizar e validar o conhecimento. Nesse sentido, conclui-se que a escola tem papel fundamental em preparar seus alunos para se adaptarem ao meio estável da contemporaneidade a partir do desenvolvimento de indivíduos que possam ser flexíveis em relação ao mundo do trabalho.
O texto da professora Marise, embora seja maçante, traz algumas considerações importantes. As escolas tradicionais divididas em disciplinas não atendem mais às demandas do mercado de trabalho, que exige cada vez mais profissionais com competências específicas, como proatividade, empatia, liderança e foco. Além disso, também dão preferência a indivíduos que possuem mobilidade para se movimentar dentro de uma empresa nas mais diversas áreas. Diante disso, as escolas devem mudar a forma como lidam com as competências, preocupando- se em formar alunos que possam usá-las em seu cotidiano.
REFERÊNCIAS
RAMOS. Maria Nogueira. Pedagogia das competências. Disponível em: https://ava.cefor.ifes.edu.br/pluginfile.php/167213/mod_resource/content/1/TEXTO%202%20-%20COMPLEMENTAR%20-%20PEDAGOGIA%20DAS%20COMPET%C3%8ANCIAS%20-%20MARISE%20RAMOS.pdf
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