Educação

Busca-se uma escola autônoma e policultural

Buscase uma escola

Quando se questiona qual é o papel da escola na formação de nossas crianças e adolescentes, muitos podem apontar seu papel fundamental de transmissora e produtora de conhecimentos. De fato, a escola deve prezar para que nossos alunos possam adquirir conhecimentos que proporcionem sua formação intelectual e do trabalho, como defende o filósofo Antonio Gramsci com a Escola Unitária. Mas, na prática, a escola parece cada vez mais se voltar apenas para formar mão de obra para o mercado de trabalho. Além disso, a escolha dos conteúdos atende a interesses puramente políticos e não atende à diversidade de seus alunos. Diante desses imbróglios, busca-se uma escola autônoma e policultural.

 

Ensino cada vez mais tecnicista

Primeiramente, cabe analisar as modificações que o ensino vem sofrendo nos últimos anos, principalmente na etapa do Ensino Médio. Cada vez mais se fala em um ensino tecnicista nos documentos e leis educacionais, como a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Isso pode ser comprovado a partir do pouco protagonismo que disciplinas como filosofia, sociologia e artes ganharam na modificação ocorrida em 2017. Segundo Gramsci, o sistema capitalista tem o interesse de formar um aluno-trabalhador através de restritas noções úteis ao mercado, noções essas que não desenvolvem a reflexão, com o objetivo de manter sua hegemonia. Logo, disciplinas como essas são suprimidas em detrimento da importância dada ao “ter uma formação técnica para o trabalho”.

 

A escola sabe lidar com a diversidade?

Ademais, muitos estudiosos, como a professora Vera Maria Candau, apontam uma grande crise que a escola atual está sofrendo em relação à sociedade que se situa. Nas últimas décadas, uma cornucópia de teorias relacionadas às culturas invadiu o mundo. Segundo Candau, essas começaram a partir das lutas referentes aos grupos sociais (negros, mulheres, homossexuais, etc.). No entanto, a escola parece ter dificuldade em lidar com essa pluralidade ao possuir um currículo homogeneizador. De acordo com Gomez (1994. Apud. Candau, 2014), as instituições de ensino devem ser um cruzamento de culturas, porém equiparam igualdade e homogeneidade, ou seja, pensa-se que, por sermos iguais perante a lei, somos iguais culturalmente. Tal concepção errônea impede que as diferenças sejam analisadas conscientemente.

 

O ensino deve ser dialético

A partir das questões levantadas, pode-se ver que se forma sujeitos inconscientes do seu ser social dentro do sistema capitalista e daltônicos culturais, que não conseguem ver a diversidade cultural que os rodeia. Com o intuito de vencer tais problemas, o professor João Luiz Gasparin apresenta um método dialético de construção do conhecimento, que afirma o quão importante é o ensino que parte do conhecimento prévio do aluno para a construção do conhecimento científico, a partir da mediação do professor. Esse método permite que o aluno possa pensar de maneira mais científica e autônoma, além de que possa incrementar seus conceitos espontâneos. Além disso, a diversidade cada um será base para sua própria formação intelectual, o que se torna primordial para se vencer o daltonismo cultural.

 

Referências Bibliográficas

BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 17 de março de 2017.

CANDAU, Vera Maria Ferrao. Ser professor/a hoje: novos confrontos entre saberes, culturas e práticas. Educação (Porto Alegre, impresso), v. 37, n. 1, p. 33-41, jan./abr. 2014.

GASPARIN, João Luiz. A Construção Dos Conceitos Científicos Em Sala De Aula. Paraná: Universidade Estadual de Maringá.

LOREIRO, Bráulio. Escola unitária e hegemonia: a indissociabilidade entre educação e política no pensamento de Antonio Gramsci. Educação Unisinos, volume 15. 2011.

Maycon Miliorini